" O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso...", Bill Shankly




quarta-feira, 20 de abril de 2011

O time dos milagres

Rafael, Cássio, Gum e Dalton; Mariano, Diogo, Maurício, Darío Conca e Marquinho; Alan e Fred foram os onze guerreiros que impediram o rebaixamento praticamente inevitável do Fluminense em 2009, em pleno Couto Pereira, ao empatarem com o rival direto Coritiba, que terminaria relegado à segundona no mesmo dia. Os 99% de chances de rebaixamento, que soavam de uma forma tão natural na boca daqueles que se sentem donos da verdade, pouco representavam para aqueles guerreiros. O 1% era o que importava. E era no que acreditavam. E como.

Ricardo Berna, Mariano, Gum, Edinho e Júlio César; Valência, Diguinho, Marquinho e Conca; Rafael Moura e Fred fazem parte de um outro grupo heróico. Ainda mais épico. São, de fato, muito mais que guerreiros. São santos. Autores de um milagre inesquecível para a torcida tricolor. Dessa vez, tiveram sete vezes mais certeza que o time comandado por Cuca no dia 6 de dezembro de dois anos atrás. Acreditaram, novamente, no que podiam e tinham. E lutaram. Lutaram até conseguirem. Pois esse grupo de jogadores é assim. O Fluminense que se construiu em 2009 é o time que guerreia, luta, e, acima de tudo, faz milagres.

Em Buenos Aires, a situação era muito delicada. A vitória sobre o líder do grupo, num estádio acanhado e lotado de argentinos fanáticos, teria que se combinar com um improvável resultado positivo do América-MEX no Uruguai, onde jogava contra o Nacional-URU. O afastamento de Emerson tinha tudo para piorar o clima que já era tenso entre os jogadores.

Nada disso. O Fluminense é maior do que tudo isso. Fred provou que, para ser ídolo e decisivo, não é preciso fazer promessas de amor, derramar lágrimas e pedir rios de dinheiro para qualquer patrocinadora. É preciso ser heróico. Guerreiro. Épico. E ter muita estrela. Além do craque que é e sempre foi, o camisa 9 tricolor está na hora certa, no momento certo, fazendo a coisa certa. E se não sair certo, o destino dá um jeito de consertar. Como a falta de quase do meio de campo, batida come extrema força e a dose correta de precisão, mas que não parecia ser suficiente para balançar as redes. O destino entrou em ação. E o até então invencível Navarro falhava feio. Era o segundo gol tricolor.

Quando Fred entrou em ação na competição da qual mais se esperava dele, o jogo já estava no fim do primeiro tempo. Júlio César, o lateral mais contestado do Brasil, não teve medo de ser feliz e mais uma vez vaiado ao tentar um chute cruzado meio maroto. Foi muito feliz. Abriu o placar e fez as pazes com a torcida. Pena que, minutos depois, o árbitro inventaria um pênalti para Salcedo converter.Sorte dos cariocas que havia um mineiro decisivo em campo. Aos 40 minutos, não havia momento melhor para Fred mostrar seu cartão de visitas. E tirar o 1 do placar tricolor. Agora sim, 2 a 1 Fluminense.

O ditado antigo diz que há coisas que só acontecem com o Botafogo. Uma lenda. E há milagres que só podem ser feitos pelo Fluminense. Verdade absoluta. Mais uma vez, o sonho do tricolor que acordou cedo já pensando no jogo de horas mais tarde estava perto de virar realidade.Bem que Valência tentou transformá-lo em pesadelo, errando feio uma rebatida, que originou o segundo gol do Argentinos Junios, do destaque Oberdan. O gol de empate.

O que mais impressionava era a capacidade de recuperação do time carioca. Após golpes duros, a equipe parecia estar com mais gana, mais vontade de transformar o impossível em possível. Eles gostam disso. E sabem como poucos fazê-los. Têm um dom e tanto. Mas como sofrem. Correm, gritam, suam, brigam, lutam. E vencem.

Rafael Moura parece ter nascido para jogar Libertadores. O porte físico, o jeitão de correr, a cabeleira, o apelido de super-herói, a dedicação. Não precisou, porém, de nada disso para novamente pôr o Fluminense na frente do placar, após rebote do goleiro Navarro. Ali, a frieza e a técnica de um centroavante refinado, comum de ser visto em Copa do Mundo, campeonatos europeus, bastavam. O He-Man é dinâmico. Se adapta facilmente ao estilo que pode lhe ser imposto. 3 a 2 Fluminense.

O fim do jogo em Montevidéu, no Uruguai, com um empate sem gols, trouxe um misto de ânimo, esperança e muito nervosismo para o time tricolor. A tensão entrou de vez em campo no garmado do estádio Diego Armando Maradona. A cada dividida, muito contato físico. Muitas faltas. Muitas pegadas. Muitas travas à vista. O jogo era de Libertadores.

O volante que Muricy procurou no Equadro, na Colômbia, no Chile, no Paraguai, na Argentina e até na Bolívia para ser útil ao Fluminense na Libertadores, o próprio treinador tinha na agenda de seu telefone. Um baita jogador. Um baita marcador. Um baita homem. Edinho não teve dúvidas ao largar o Palmeiras e vir topar o desafio de disputar uma Libertadores pelo Fluminense. É incrível como Edinho se encaixa bem no perfil de um guerreiro. E como é essencial nos jogos fora de casa.

Muito mais que um leão na marcação, Edinho é um guepardo nas subidas ao ataque. Mescla força, experiência e velocidade. Com um preparo físico invejável. De vez em quando apela para as faltas. Não está nem aí. “Volante bom é volante que sabe dar porrada”. Mas no momento. Volante bom é volante que também sabe sair pro jogo, subir ao ataque. Edinho provou com maestria. Depois de brigar pela bola na defesa, partiu em disparada, tabelou com Araújo e só foi ser derrubado por Navarro. Pênalti. Para Fred, é meio gol. Ou mais. 4 x 2 Fluminense.

O milagre aconteceu de novo. Desta vez, com mais intensidade. A epopéia foi maior. E, assim como em 2009, a guerra não acabou com o apito final. A pancadaria pós-jogo passou a ser a forma de encarar o time de guerreiros inspirado. Depois da barbárie ocorrida no Couto Pereira, foi a vez dos próprios jogadores argentinos protagonizarem cenas lamentáveis de briga generalizada. E lá estavam Mariano, Gum, Diguinho, Marquinho, Conca e Fred novamente, se defendendo como puderam dos socos e pontapés. Revidando, é claro. Não são bobos. São espertos até demais. Guerreiros. E, agora, santos.

O dia 20 de abril de 2011 não será jamais esquecido pela torcida tricolor, como muitos outros, e servirá para reforçar a tese pronunciada pelo time que rebaixou o Coritiba há dois anos. A tese de que não se pode, jamais, duvidar do Fluminense. Desde que os jogadores deixaram de ser jogadores para se tornarem guerreiros – e agora santos -, tudo é possível. Não importa como, não importa onde. Se há guerra, há Fluminense. O time de guerreiros é o time dos milagres.

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