" O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso...", Bill Shankly




quinta-feira, 28 de junho de 2012

Por que sempre ele?

                                                           Foto: Reuters

Podia ser Pirlo, com sua classe imensa e seus passes incríveis. Podia ser Buffon, com suas defesas magistrais e sua liderança nata. Podia até ser Cassano, com seus dribles e assistências decisivos. Mas é Mario Balotelli quem faz o mundo transcender os elogios comuns e exaltar a classificação italiana para a final da Eurocopa. Ele tem esse poder de causar impacto nas pessoas. 

Balotelli, definitivamente, não é um cara comum. É ímpar em todos os aspectos. Adora uma noitada, uma manchete sensacionalista, uma confusão. Dentro dos campos, sabe aliar técnica e raça. Não foge da divida, nem dos problemas. Luta até ganhar do zagueiro e vencer o jogo. Quando não consegue, soca o gramado e, eventualmente, perde a cabeça. Fazer o quê? Balotelli é assim. Tem personalidade.

Hoje ele não perdeu a cabeça, não deu pontapé em zagueiro, não xingou juiz, não brigou com torcedores, nem com o técnico. Supermario parecia estar focado. Tão ligado, que antecipou Badstuber antes mesmo de Cassano cruzar, para marcar o primeiro gol da Itália, de cabeça. No segundo, foi mais Balotelli do que nunca. Ganhou na velocidade, com a bola nos pés, e mandou um canudo, no ângulo de Neuer. Na comemoração, falou meia dúzia de palavrões ao imitar o Incrível Hulk, forçando os músculos de frente para os companheiros.

Foi o suficiente para parar as redes sociais. Elogios e idolatria por todas as partes. Balotelli é muito querido. E polêmico. Ao sair de campo, reclamou com o técnico. Ele quer jogar os 90 minutos, decidir todos os jogos, ser o melhor de todos. E, ao menos para si mesmo, ele é um gênio. Muito acima de Messi, Cristiano Ronaldo e etc. A humildade passa longe. A marra fala mais alto. E Balotelli segue atraindo fãs...

Não sei se é o brasileiro que gosta do alternativo, do diferente, do que foge à regra a preferir o politicamente correto, o normal. Pode ser algo dos jovens, tão revolucionários quanto ele. Mas o que Balotelli atrai de fã não é brincadeira. No Brasil e no mundo.A personalidade, o estilo irresponsável dentro e fora de campo e a insanidade mental parecem ser motivos de risadas e divertimento do público. E juntamente com os gols e o bom futebol, se tem um conjunto de fatores que transforma Balotelli num ídolo mundial.

Ele finge não estar nem aí, finge achar uma perseguição o que os jornais fazem com ele, mas no fundo gosta. Não importa se é uma foto com uma modelo, uma notícia de uma festa que ele deu ou de uma besteira que fez. O importante é estar lá, na capa da Gazzetta dello Sport. Falem bem ou mal, mas falem dele. 
Aliás, depois de decidir um jogo do porte de uma semifinal de Eurocopa e ter o nome exaltado pelo mundo inteiro, são grandes as chances de Balotelli perder o juízo e a noção na comemoração. Ou não. Vai que ele está querendo botar a cabeça no lugar para se consagrar no continente. É por isso que os italianos pedem. Ou não. Afinal, são ou maluco, Balotelli é um prato cheio para quem gosta de futebol. E de boas histórias.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Qualidade, confiança e estrela: a noite de Romarinho


                                             Foto: Marcos Ribolli/Globoesporte.com


Há pouco menos de um mês, Romarinho sequer sabia se ia dar certo no futebol. Oscilante na Série B que disputava pelo Bragantino, matava um leão por dia para não morrer de fome. Pouco mais de três semanas depois, já contratado pelo Corinthians, com três gols decide um clássico contra o Palmeiras e empata uma final de Libertadores, contra o Boca Juniors, em plena Bombonera. Essa é uma das histórias que só o futebol é capaz de proporcionar.

Que Romarinho tem estrela digna do peso do nome que carrega ninguém duvida mais. Muito menos que o Corinthians tem o título encaminhado com o empate na Bombonera e a vantagem de precisar apenas de uma simples vitória no Pacaembu, na próxima quarta-feira.

É verdade que o Boca Juniors tem Riquelme. E, muitas vezes,  isso basta para decidir o jogo, ou até um campeonato. Foi baseado na visão de jogo, no ritmo do camisa 10 que os xeneizes controlaram a maior parte do primeiro jogo na final.  E quase saíram com a vitória. Se não fosse por Romarinho...

O Boca de Riquelme jogou bem. Marcou bem, soube explorar as deficiências na marcação dos laterais corintianos, evitar as bolas esticadas para Emerson e controlar o meio de campo. Impôs um ritmo cadenciado, de toque de bola, porém de muito perigo nas jogadas pelos flancos. As "pequenas sociedades" do time argentino são laterais. Três ou quatro jogadores juntos, perto uns dos outros, criam jogadas nos flancos do campo com uma facilidade incrível. E logo a bola é cruzada para a referência do time, Santiago Silva.

Sorte dos brasileiros que a dupla de zaga Chicão e Leandro Castán estava inspirada. O primeiro, com seu posicionamento correto habitual; o segundo, com um tempo de bola digno de melhor zagueiro do Brasil no ano.

Mesmo assim, o Boca levou perigo. Esteve perto da vitória. Muito mais perto do que o Corinthians.
Até pelo fato do TImão ter marcado muito mais do que jogado. Pelo fato de Paulinho, cauteloso pelas obrigações defensivas, ter aparecido pouco nas ações ofensivas. Pelo fato de Tite ter demorado a mexer...bem. E mexer bem, hoje, era colocar Romarinho.

Jogador confiante é outra coisa. Jogador com estrela é outra coisa melhor ainda. Jogador confiante, com estrela e bom de bola é sucesso certo. Romarinho era sucesos certo. E foi. Lógico que contou com a única e ótima participação de Paulinho, que roubou a bola de Riquelme e começou a jogada do gol de empate. E com o excelente passe de Emerson, mais uma vez decisivo, para deixá-lo na cara do gol.

 Aí, foi só se inspirar no próprio nome. Dentro da área, todo Romário deve ser Romário. E Romarinho foi

domingo, 24 de junho de 2012

A Itália que sabe jogar acaba com um mito histórico

Foto: Getty images



Há um mito de que a Itália só sabe se defender. Corrigindo. Havia um mito de que a Itália só sabia se defender. A alcunha de time retranqueiro certamente não cabe mais à Azzurra. Não depois de hoje. Não depois de Pirlo, como primeiro-volante, ter sido o melhor em campo, de longe o jogador mais criativo e perigoso do jogo, como nos seus melhores anos de Milan. Não depois da equipe de César Prandelli ter tido posse de bola superior durante todos os 90 minutos, sobre outra potência mundial, a Inglaterra.

Essa crença mística e preconceituosa já devia ter acabado em relação ao futebol italiano. Quem assiste ao campeonato italiano, vê bons jogos, ótimos times e muitos gols. Claro que os italianos gozam de um maior prestígio quanto ao sistema defensivo. Algo mais do que cultural, histórico. É sabido que a Itália sempre montou seus times à base de uma boa defesa. Faccheti, Baresi, Maldini, Cannavaro, Nesta...A lista é extensa. E esclarecedora.

Mas o futebol mundial sempre pediu equilíbrio. Os grandes times sempre tiveram no equilíbrio a chave para o sucesso. São raros os casos de equipes marcantes, vencedoras só com uma grande defesa ou um grande ataque. Os grandes esquadrões tinham times equilibrados, com boas defesas, bons meios e bons ataques. A Itália sempre teve times com grandes defesas. E seus melhores times, tinham bons ataques, alguns ótimos ataques.

Hoje, a Itália provou ser mais criativa que a Inglaterra. E ser ofensiva. Provou ser bem-sucedido o processo de renovação da seleção nacional, encabeçado, agora, por Prandelli e seus interessantes ideais na montagem de um time.Não tão intensa e envolvente como a Alemanha. Nem tão estilosa como a Espanha. Mas atraente. Afinal, uma seleção que controla todo um jogo de quartas de final da Eurocopa, com posse de bola superior ao adversário, mais volume de jogo há de ser atraente aos olhos de quem gosta de futebol. E, de fato, a Itália é atraente. É muito mais do que uma forte defesa.

Atualmente, aliás, o setor ofensivo italiano chama até mais atenção do que o defensivo. Com Pirlo armando, Marchisio, De Rossi, Thiago Motta e Montolivo, não necessariamente nessa ordem, ajudando na criação das jogadas e se desdobrando para reforçar a marcação no meio-campo e um ataque formado por dois jogadores de movimentação, técnica e oportunismo, se tem um time ofensivo. Atacante.

Para muitos, sem a cara da Itália. E que cara é essa? O time que só sabe se defender? Que time é esse? A Itália de 70 chegou à final fazendo grandes jogos, passando de uma semifinal, com direito à prorrogação, com sete gols, dos quais quatro foram italianos. Em 82, tinha um time sólido, de muita marcação no meio, é verdade, mas bons jogadores do meio-pra frente. Em 94, tinha Baresi na zaga. E que zaga. Mas na frente, tinha Roberto Baggio, um dos grandes atacantes da época. Em 2006, talvez o time que mais contra-atacava. Mas que sabia atacar e contra-atacar. Time bastante equilibrado e decisivo. Não à toa acabou campeão.


O importante é que o mito acaba hoje. A Itália sabe muito mais do que só se defender. A Itália sabe jogar, criar, atacar, sufocar, ganhar. Contra a Alemanha, terá outra excelente chance de provar o seu verdadeiro valor. O deuses do futebol agradecem.

sábado, 23 de junho de 2012

River Plate de volta à elite: uma história de amor


O retorno do River Plate à elite do futebol argentino nada mais é do que uma história de amor. Sentimento que úne time e torcida em qualquer divisão ou região. Sentimento que fez Cavenaghi e Domínguez ignorarem boas propostas para tirarem uma mancha na história do clube que amam. Amor que Trézeguet, mesmo de longe, nunca deixou fugir de seu coração. E que, agora, no final da carreira, precisava ser levado a sério.

E lá foi Trézeguet se arriscar na cidade onde passou a juventude. As condições físicas não criavam boas perspectivas. A idade, muito menos. A trajetória gloriosa era a única explicação para a crítica argentina. Mas Daniel Passarella sabe que, para jogar no River, não basta atender ao que a maioria quer. É preciso mais. É preciso atender ao que a torcida quer. Ao que o clube precisa. É preciso jogar por amor.

E disso, Passarella não tinha por que ter dúvidas. Trézeguet jogaria por amor. Independente de quanto lhe pagassem, das condições que lhe impusessem. Era disso que o River Plate precisava a essa altura. De amantes. De amores. De Trézeguet, Domínguez, Cavenaghi. De um técnico que entendesse o sofrimento pelo qual o clube passou na temporada passada. De um técnico que amasse o River. De Matias Almeyda.

Com essa legião de heróis famosos e tantos outros menos conhecidos, mas tão importantes quantos, como Funes Mori, Aguirre, Ocampos, entre outros, meio caminho estava andado. A caminhada, ainda assim, seria longa. Campos ruins, cidades, distantes e de difícil acesso. Obstáculos incomuns à grandeza do clube. E que não foram capazes de afastar a fanática e impressionante torcida do River. Em todos os jogos, muita gente do lado millonário das arquibancadas.

Fidelidade é uma palavra forte. Mas que pode ser usada para definir o River deste ano. A torcida é fiel ao clube, a diretoria é fiel, os jogadores jogam por amor à camisa. É difícil dar errado quando se joga por amor. Pode faltar qualidade, mas sobra raça. Pode faltar técnica que sobra vontade. E os jogos, aos poucos, foram sendo ganhos. E o River foi voltando. Jogo a jogo.

Hoje, o dia de festa. Com dois gols de Trézeguet, que ainda perdeu um pênalti. E daí? Com o título e o retorno à primeira divisão, Trézeguet poderia perder até 5 pênaltis que seria herói. A torcida do River é assim. Identifica facilmente seus ídolos e os defende de qualquer acusação. Ai de quem botar a culpa em Domínguez pela derrota na última rodada. Ele perdeu um pênalti nos últimos minutos. Hoje, entrou e saiu de campo ovacionado.Fidelidade, se vê pelo Monumental.

Tão emocionante como o choro de Cavenaghi, já no banco de reservas, no fim do jogo de hoje, vitória por 2 a 0 sobre o Almirante Brown. Choro de quem abandonaria tudo para salvar o River. Choro de quem lutou para acabar com o sofrimento da torcida. Choro de quem ama. Isso é River Plate.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Portugal avança e cresce com Cristiano Ronaldo inspirado


É sempre bom ter as estatísticas ao lado na hora de analisar um jogo de futebol. Por vezes, elas podem servir como um grande auxílio na explicação de um resultado. Como hoje, na vitória por 1 a 0 de Portugal sobre a República Tcheca, com gol de Cristiano Ronaldo, novamente o melhor em campo.

Se não bastasse o talento do camisa 7, o time comandado por Paulo Bento quis vencer. Enquanto os tchecos finalizaram somente duas vezes, os portugueses chutaram 20 vezes pro gol. O abismo nos números é uma ótima referência para a conclusão de que a vitória foi, de fato, muito merecida.

E dos 20 remates de Portugal, 8 foram do melhor jogador em campo. Cristiano Ronaldo, assim como contra a Holanda, comeu a bola. Se movimentou, saiu do seu exílio costumeiro na ponta-esquerda e participou de quase todas as ações ofensivas portuguesas no jogo. Quando João Moutinho acertou o cruzamento, Selassie sequer viu Cristiano Ronaldo. Como num passe de mágica, ele tomou sua frente e cabeceou de forma certeira para o gol.

Na comemoração, os gritos de "Eu sou f..." foram inevitáveis. Para seus críticos, depois da resposta em campo, o desabafo vem em tom agressivo, marrento, bem Cristiano Ronaldo.  São poucos os que têm personalidade e futebol andando juntos, de mãos dadas, ao longo da carreira. Esses sofrem. E gostam de ser assim. Decidem assim, são craques assim.

Portugal hoje tem um time empolgado. E um craque inspirado. A combinação dos dois fatores pode resultar em título. É isso que os portugueses esperam.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Boca não leva mais de dois gols há mais de um ano. La U precisará fazer história


Foto: AP

A Universidad de Chile tem time para fazer 2 a 0 no Boca Juniors em Santiago. Mas não demonstrou o futebol para sequere empatar na Argentina. Sem foco na defesa, deu espaços de sobra e foi controlada pelo traiçoeiro Boca Juniors durante a maior parte dos 90 minutos. Resultado: vitória por 2 a 0 dos xeneizes, que seguem copeiros como sempre e sem tomar mais de dois gols numa partida há mais de um ano.

A dificuldade dos chilenos em passar de fase, porém, vai além da tradição e das estatísticas recentes do rival. O Boca, hoje, tem um time cascudo. Que marca muito tanto no seu campo como no campo de ataque. Com dois volantes que saem pro jogo sem se esquecer das obrigações defensivas. E um cabeça de área que deu a vida no tratamento de uma séria lesão para poder jogar a reta final da competição.

O Boca tem sangue, raça. Tem Ledesma matando um leão por jogo para não deixar o principal jogador rival se tornar uma ameaça ao gol defendido por Orión. Tem Mouche correndo o campo inteiro para marcar e criar uma alternativa de gol. Como no primeiro da vitória de hoje, de Santiago Silva.

Santiago Silva que enfim desencantou. Com um gol e uma grande atuação, se encaixa finalmente como a referência do time de Julio Cesar Falcioni, completamente acertado para os últimso jogos da Libertadores. E, agora sim, temido. Com uma ótima vantagem, o Boca se encaminhou para a final. Até porque não leva mais de dois gols desde o início de 2011. La U que se cuide. E que jogue o melhor futebol da sua história. Só assim conseguirá eliminar o time mais traiçoeiro e copeiro do continente.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

A complexidade que define Cristiano Ronaldo


Foto: Reuters


Cristiano Ronaldo teve ao menos três chances de sair como herói na vitória de Portugal sobre a Dinamarca, hoje, pela segunda rodada da fase de grupos da Eurocopa. Falhou nas três. E, por incrível que pareça, acabou salvo de uma perseguição maçante graças ao gol do reserva Varela, já no fim da partida, que decretou a vitória de Portugal, que ainda respira na competição.

O rótulo de amarelão pode ser injusto. Mas pior ainda é dizer que o camisa 7 foi bem. Porque não foi. Apesar da movimentação e da participação intensa na partida, Cristiano Ronaldo perdeu gols incríveis, como o cara-a-cara com o goleiro dinamarquês, já na segunda etapa. Principalmente pelo fato de Cristiano ser o cara da seleção portuguesa, o homem de quem todos esperam a melhor resolução para os problemas. O craque do time.

Papel esse que hoje coube a Nani, o melhor em campo. Nani, sim, finalizou bem, armou bem e, ainda que não tenha feito um gol, colaborou absurdos para a construção da vitória sobre o complicado e organizado time dinamarquês. E um detalhe extra: Nani marcou.

Ao contrário de Cristiano Ronaldo, Nani marcou até demais. Escalado como meia-extremo pela direita, sabia da responsabilidade que teria em conter os avanços do lateral Simon Poulsen. O mesmo dever que deveria ter Cristiano Ronaldo na cobertura das subidas de Jacobsen. Ronaldo não teve essa disposição e força de vontade. Tanto é que deixou Jacobsen jogar solto. E foi dele a jogada e o cruzamento para o segundo gol dinamarquês.

Perdendo gols na frente e ignorando suas obrigações defensivas, Cristiano Ronaldo deixa, mais uma vez, seu ego falar mais alto. Craque que é precisa provar ao mundo que pode fazer a diferença a favor de seu próprio país. A Eurocopa é uma excelente forma para tal. E ela já está na segunda rodada. Hoje, por pouco Cristiano Ronaldo não saiu como vilão. Assim, as críticas só tendem a aumentar. E não há defesa capaz de safá-lo da ira dos portugueses.

Talvez não seja nem por falta de vontade ou qualidade. Pode ser azar. Mas fato é que Cristiano Ronaldo pode melhorar em muitos outros aspectos que só dependem do seu próprio desejo. O cara que, muitas vezes, responde por todo um time precisa agir como tal sempre. É uma responsabilidade de gigantes que Cristiano Ronaldo parece não gostar de ter. Um fenômeno difícil de se entender.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Tabelando com Pedro Spiacci, sobre Eurocopa


Pedro Spiacci - Fala, Lucas, como está? Ansioso para o maior torneio de seleções do ano?

Lucas Imbroinise - Grande Pedro! Tudo bem. Muito ansioso pra bola rolar na Polônia e Ucrânia.

PS - Minha ansiedade também é grande. Vamos fazer as análises grupo por grupo?

LI - Vamos lá. Como você analisa o grupo A, tido para muitos como o "grupo da vida", em alusão oposta aos complicados grupos "da morte"?

PS - O grupo A pode ser tido como a chave dos coadjuvantes, mas a briga promete ser bastante equilibrada. Acredito na República Tcheca um pouco atrás de Polônia, Rússia e Grécia. Os  donos da casa vêm embalados pelo trio do Borussia Dortmund. Os russos têm uma boa geração e contam com Dick Advocaat, técnico que comandou o Zenit na melhor fase do clube e é justamente o time de São Petersburgo que cedeu boa parte da base da seleção. Com ele, Arshavin também jogou muito, pode dar samba. Já a Grécia, àquele jogo de sempre, muita marcação, filosofia que não mudou com o português Fernando Santos no comando.

LI - Então, Pedro. Eu também aposto muito na empolgação dos donos da casa e no talento dos russos, que, por mais que não tenham uma geração tão boa quanto a de 2008, vêm com ótimo elenco. A Polônia é um time de força, de muita marcação no meio e contra-ataques rápidos. Tem uma zaga minimamente segura e um goleiro em boa fase num grande clube europeu, além do artilheiro Lewandowski inspirado. Discordo um pouco de você quanto aos tchecos. Para mim, eles ficam na frente da Grécia, como a terceira força do grupo. Acho quase impossível dos gregos surpreenderem positivamente. Posso queimar minha língua, mas sinceramente, vejo com chances quase nulas de sucesso para a Grécia.

PS - Vamos ao segundo grupo então. O grupo B tem duas das três principais favoritas. A Holanda vem mais uma vez muito forte e tem uma vantagem em relação ao elenco da Copa: Van Persie está em fase totalmente inversa a de 2009-10, hoje é um dos melhores do mundo. Ao seu lado, Sneijder, Robben e Huntelaar no setor ofensivo. A defesa pode preocupar, mas a forte dupla de volantes protege a retaguarda muito bem. Na Alemanha a expectativa é alta também, né, Lucas?

LI - Sem dúvidas, Pedro. Talvez seja, juntamente com Espanha e Holanda, uma das equipes mais consolidadas atualmente. Joachim Löw segue dando continuidade a seu ótimo trabalho, lançando jovens promessas e habilitando o país com um futebol vistoso, ofensivo e agressivo, no bom sentido. Quanto à Holanda, chamo a atenção para uma incógnita: Arjen Robben. Que Robben veremos nessa Euro? O meia-extremo do Bayern terminou a temporada de forma trágica, perdendo pênaltis decisivos e de mal com o próprio futebol. É, sem dúvidas, uma das armas mais importantes do 4-2-3-1 holandês. Menos mal para os "laranjas" que Afellay voltou comendo a bola de sua última contusão no joelho, e pode ser um bom substituto para Robben.

PS - E ainda tem Portugal de Nani e principalmente de Cristiano Ronaldo. Se o camisa sete for bem, não duvido que a “seleção das quinas” consiga algo grande nesta Euro, mas disputar uma das vagas no grupo B já será um grande desafio. Mesmo com um ótimo jovem como Eriksen – talvez, o melhor da Euro 2012 junto com Götze –, creio que a Dinarmaca não vá conseguir nada além de participar.

LI - Muita gente se enganou com a Dinamarca, no último amistoso diante do Brasil. A imagem passada, de uma equipe fraca, retroativa, monótona, não faz parte da realidade do time. Mas, por azar, os dinamarqueses caíram no "grupo da morte", e dificilmente conseguirão passar de fase. Já Portugal surge como, de fato, a terceira força do grupo. Depende muito de Cristiano Ronaldo e de sua irregular dupla de zaga. Para piorar, os volantes também não vêm bem. É um time que toma muitos gols. E contra Alemanha e Holanda, nunca é bom ter uma defesa "peneira".

PS - No grupo D também vejo equilíbrio com Espanha e Itália à frente das demais, não é? 

LI - Isso. A Espanha é a grande força do torneio, mas nos últimos amistosos não vem jogando o melhor que sabe. Ainda assim, com Xavi e Iniesta querendo jogo, e Juan Mata e David Silva minimamente participativos, será muito difícil segurar a Fúria. Mesmo sem o artilheiro David Villa. Afinal, além dele, os espanhois também podem confiar em Fernando Torres, Fernando Llorente, Pedro...

PS - Exato, são 19 campeões mundiais no elenco, mas algumas mudanças pontuais. Já a Itália é o inverso: buscou se renovar e vem com dez da Copa de 2010. Os escândalos de combinação de resultados tiraram Criscito da Euro e Bonucci e Buffon tiveram seus nomes citados. Sem dúvida, isto abala o elenco azzurro, que vai confiar no forte sistema defensivo, que só foi vazado duas vezes na fase classificatória. Os bons volantes ajudam na consistência defensiva italiana. No ataque, a confiança é depositada nos ótimos e imprevisíveis Cassano e Balotelli. Croácia de Modric também pode incomodar, Lucas?

LI - Pedro, para te falar a verdade, aposto até mais na Croácia e na Irlanda do que propriamente na Itália. A crise pela qual passa o futebol italiano só tende a piorar o desempenho da Azzurra, que já não é dos melhores nos últimos tempos. O peso da camisa, obviamente, pode reverter esse panorama, mas se tivesse que apostar a favor ou contra os italianos, optaria pela segunda opção.
A Croácia vive da mesma geração de 2008. Tem em Modric a figura de protagonista do time e em Eduardo da Silva de definidor das jogadas. Conta com uma defesa experiente, chefiada por Simunic, e um meio-campo talentoso, com Modric, Kranjcar e Rakitic. Após as decepções recentes em Copas do Mundo e a frustração por não ter chegado às semis na Euro de 2008, o time comandado por Slaven Bilic pode surpreender, apesar de ter caído num grupo bem complicado. Bilic, inclusive, é uma espécie de inspiração para seus comandados. Afinal, fez parte da melhor seleção croata de todos os tempos, em 1998, ao lado de Prosinecki, Kovac, Boban e o artilheiro da Copa do Mundo daquele ano, o monstruoso Davor Suker.

PS - A Irlanda de Trapattoni também é bem organizada no tradicional 4-4-2 e pode beliscar uma vaga. 
LI - Exato. Os irlandeses apostam muito nesse time. É o melhor desde o de 2002. E tem um técnico sério, que vem revolucionando o futebol no país, após décadas de adminsitrações conturbadas e treinadores derrotados. O time tem gente do nível de Richard Dunne, Damien Duff e Robbie Keane. Pode beliscar uma vaga, hein.

PS - E o grupo D, hein, não me lembro de uma Inglaterra tão fraca nos últimos anos, como esta da Euro, hein?
LI - Sim. Muito atrapalhada também pelos desfalques. São tantos...Ao menos se passar, terá Rooney na fase final. Menos mal, né? Ainda assim, um time muito costurado.

PS - Quem pode se beneficiar muito com isso é a Suécia do gênio Ibrahimovic, artilheiro da Serie A 2011-12, com 28 gols que, de quebra, cedeu seis assistências. Além de ter se destacado nas Eliminatórias: marcou cinco e cedeu três assistências. Mas a grande seleção da chave é a França de Blanc, com muita variação tática: 4-2-3-1, 4-1-4-1 e 4-3-3 são bem executados pelos bleus. Além de ter um dos melhores meio-campos da Euro 2012: M’Vila e Cabaye são volantes bem dinâmicos e o trio Ribéry, Nasri e Valbuena tem capacidade de criar jogadas e também de marcar seus gols. A defesa não é tão forte, mas o conjunto francês é muito. E olha que a equipe havia sido eliminada na primeira fase da Copa de 2010. 

LI - Apesar de me encantar no papel, não vejo, na prática, a França tão forte, Pedro. Gosto bastante do trabalho de Laurent Blanc, é como uma espécie de renascimento do futebol francês, mas acho que o ponto alto dessa seleção virá daqui a um tempo somente.

PS - E a outra anfitriã, Lucas?

LI - A Ucrânia, para mim, é uma incógnita. Tem um time pouco conhecido e uma zaga lenta. Na frente, ainda há vaga para o veterano Shevchenko, que se despedirá do futebol. Ele bem que merecia um adeus honroso, por tudo que fez com a bola nos pés... Porém, acho difícil.

PS - Então é isso, Lucas, competição vai ser muito interessante, com Espanha, Holanda e Alemanha largando na frente, mas com a França muito forte também. A Euro 2012 será demais. Vamos palpitar...

Palpites Pedro Spiacci
Campeã: Holanda
Artilheiro: Robin Van Persie
Craque: Wesley Sneijder

Palpites Lucas Imbroinise
Campeã - Alemanha
Artilheiro -  Robin Van Persie
Craque - M. Özil

PS - Valeu, Lucas, foi um prazer tabelar mais uma vez contigo!
LI - Digo o mesmo, Pedro. É sempre uma honra!
PS - Abração!
LI - Outro!

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