" O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso...", Bill Shankly




domingo, 13 de março de 2011

Muricy, é você?



Quando, em julho do ano passado, Muricy Ramalho rejeitou o convite de Ricardo Teixeira para ser o novo treinador da Seleção Brasileira, a alegação por parte do então comandante do Fluminense era de que ele "não rasgava contratos". Na verdade, o empecilho era a liberação por parte da diretoria tricolor, que não estava disposta a abrir mão de uma multa milionária. Afiando a ética moralista em seu discurso, Muricy seguiu em frente, na promessa de cumprir mais um contrato, como sempre havia feito.

Mesmo sem estrutura para treinamentos e afins, Muricy superou barreiras inimagináveis, lutou contra muitos que não acreditavam no seu sucesso à frente do "time de guerreiros", e foi campeão brasileiro pela quarta vez na carreira, tirando o Flu de uma fila de 26 anos. Acabou aclamado em pleno Engenhão, mais uma vez eleito o melhor técnico da competição.

No entanto, o ano de 2011 começou mal. No Carioca e na Libertadores. E nos bastidores. Tudo dando errado. E eis que, menos de um ano depois de assumir, e faltando ainda mais de outro ano de contrato, o capitão abandonou a embarcação. A bola puniu, sim, mas, desta vez, o trabalho, a ética e todas as virtudes morais que o homem Muricy Ramalho parecia ter, não apareceram para o defender. Parecem ter se perdido no tempo. No futebol. Na politicagem de quem pouco entende do assunto principal, e só contribuem para piorá-lo em todos os aspectos.

O que houve, Muricy? Prestes a jogar uma partida decisiva pela Libertadores, precisando de uma vitória em casa, pedes demissão do seu clube, que tanto precisa de você? Este não pode ser o Muricy que o Brasil conheceu nos últimos anos. E o pior: há quem garanta que ele já acertou com o Santos. E o discurso moralista, mal-humorado, típico dos momentos pós-derrotas? Nem ele apareceu. A moral sumiu. E na maior derrota de sua carreira, Muricy não falou. Omitiu-se. E se perdeu. Não só como técnico, mas como pessoa. Seu caráter foi por água abaixo.

Logo ele, que garantia não terminar contratos de forma prematura. Logo ele, que pregava a ética e o trabalho honesto acima de tudo. Não, Muricy, você não roubou, não infringiu leis, mas errou como um vagabundo sem caráter. E saiu sem mais nem menos alegando "falta de estrutura". Obviamente, falta, sim, estrutura ao Fluminense. Muita, por sinal. E há sinais evidentes de que a diretoria não estaria tão interessada em empenhar-se na tal reformulação e reestruturação do clube. Motivos de sobra para deixar Muricy irritado. E só. Jamais uma justificativa para uma demissão repentina.

Por mais que a saída de Alcides Antunes tenha colaborado - e muito - para a decisão tomada por Muricy Ramalho, o treinador errou feio. Como técnico, encantou a torcida, arranjou soluções para um time capenga de seus principais talentos e fez de Conca um craque não só de talento, mas também de regularidade. Como técnico, também decepcionou, com uma eliminação na Taça Guanabara, de forma frustrante, além de resultados negativos na Libertadores.

Contudo, foi como homem que Muricy mais errou. O caráter que parecia o caracterizar sumiu de repente. A gana pela vitória, vinculada às obrigações de seu trabalho, esvaziou-se em meio à crise dos bastidores. E Muricy jogou a toalha. Como um fraco, perdedor. Como um desistente.

Quando ele resolver se pronunciar, todos agradecerão. Esperamos que ele tenha uma explicação convincente para o episódio que ofuscou um Fla-Flu. E que volte a ser o Muricy do respeito, do caráter, da ética. O Muricy que trabalha, trabalha, trabalha...e vence. Pois este que nós estamos vendo agora, ninguém conhece.

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