" O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso...", Bill Shankly




segunda-feira, 19 de março de 2012

O jogo da vida de Muamba









Nada mais importa quando a luta pela vida ofusca qualquer outra disputa. O congolês Fabrice Muamba não era titular absoluto do Bolton, mas lutava a cada jogo para estar entre os onze escolhidos pelo técnico Owen Coyle. Na partida válida pela Copa da Inglaterra, na última sexta-feira, contra o Tottenham, ele foi um dos escolhidos. Mas não terminou o jogo entre os onze. Acabou, sim, como o mais aplaudido pelo estádio, mesmo sem ter tido uma atuação brilhante. Foi também o mais citado nas redes sociais, nas manchetes de jornais. E nas orações dos ingleses, congoleses e amantes do futebol. A partida não foi só ofuscada, mas também cancelada. No jogo da vida de Muamba, o futebol não vale nada. Uma lição que a vida nos dá.

A repercussão ganhou o planeta em instantes. Em volta do Reebok Stadium, a casa do Bolton, flores não param de chegar e se juntar às mensagens de apoio em camisas, cachecóis com as cores da equipe. Fotos do meio-campista também colorem o ambiente pesado. O semblante dos torcedores que por ali passam não deixa dúvidas de que o momento é de reflexão. E de esperança. Na ânsia por dias melhores, jogadores, dirigentes e torcedores dos mais diversos clubes se unem e trabalham em cima de uma mesma causa.

É nessas horas que o futebol perde espaço para as emoções da vida humana. O infarto sofrido pelo jovem volante de 23 anos sensibilizou a todos que estavam dentro do White Hart Lane na sexta. E tocou o mundo em instantes. Na era das mídias convergentes e do mundo integrado, não é preciso muito para unir diversos segmentos da sociedade no apoio a um jogador de futebol. Na luta pela vida, os aplausos independem de religião, torcida, grupo social.

Mas há sempre um engraçadinho para fazer uma piada. Ainda mais com o advento do twitter. O bobo da vez foi rapidamente pego pela polícia galesa. E preso. A exceção que foge à regra não tem o que acrescentar na torcida pró-Muamba.

Interessante, mesmo, é a forma como o futebol, ou melhor, o esporte em geral sensibiliza as pessoas. O espetáculo produzido pela mídia eleva as cenas do filme da vida real a um patamar astronômico. O inédito ganha uma força sobrenatural, e se sobrepõe aos fatos do cotidiano, aos fatos comuns, aos lances normais de uma partida de futebol. O mais impressionante é a repercussão causada por um problema de saúde de um jogador. É como se ele, por estar ali, tão evidenciado pela televisão, pela imprensa, fosse imune a qualquer tipo de problema de saúde de uma pessoa “normal”.

As pessoas não acreditam. Os torcedores ficam abismados. O ídolo deles está no hospital como aquele parente doente. E logo a vida nos dá mais uma lição: somos todos seres humanos. O profissional, com todo aparato técnico e médico que recebe diariamente, com todos os recursos que o sucesso profissional lhe rendeu, também sofre com fatalidades. Como Muamba. E talvez por isso, chegue com tanto impacto às pessoas, ao público em geral.

Porém, assim como tantos desconhecidos ganharam seus minutos de fama com superações e milagres da vida e da ciência, o ídolo, o jogador famoso também pode ter essa sorte. A nós, torcedores, dirigentes, jogadores, jornalistas, médicos, cidadãos, seres humanos, cabe torcer e rezar. E perceber que a vida nos dá aulas diariamente.

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