" O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso...", Bill Shankly




quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Vasco não pode colocar a culpa da derrota no cansaço


A preocupação quanto ao cansaço do time, que serve como desculpa para todo torcedor vascaíno, não pode ser colocada como razão da derrota do time, para o Universidad de Chile, nesta quarta-feira, por 2 a 0, em Santiago. Não foi no preparo físico que o Vasco perdeu a chance de conseguir a tão sonhada tríplice coroa. Mas sim nas partes técnica e tática. Em duas falhas da zaga, dois gols bobos, e que decidiram a classificação do time chileno.

A ruim partida que fez o Vasco começou na escalação de Cristóvão Borges. Sem Felipe poupado, o treinador optou por dar mais marcação ao meio de campo, com Nílton na proteção à zaga. Assim, adiantou Allan, Rômulo e Juninho para a criação das jogadas, com o último centralizado. Acontece que Juninho vivia uma de suas piores noites. Errava passes, lançamentos, dribles e até faltas, sua especialidade.

E o time não criava. Sem Felipe e com Juninho mal em campo, o senso de criatividade do Vasco praticamente desaparece. E a bola não chega a Diego Souza e Alecsandro. Então, mesmo ocupando o campo de ataque, marcando sobre pressão, o time carioca não conseguia controlar o jogo. Do outro lado, tocando a bola com calma e saindo com passes certeiros, sem afobar as jogadas, a La U controlava a maior parte do jogo. Quase sempre nos contra-golpes perigosos pelos flancos.

Com a vantagem no placar graças ao gol de Canales, em falha grotesca da zaga vascaína, que não soube aliviar o perigo de uma bola quase “morta” dentro da área, o time chileno teve ainda mais facilidade para executar o seu plano de jogo. Procurando soluções, Cristóvão Borges lançou o amuleto Bernardo logo no intervalo, no lugar do inoperante Allan. O meia entrou mal e o Vasco, pior ainda. Mais lento, vivendo à base de ligações diretas.

Mais tarde, a alternativa foi apostar na experiência de Leandro, fora da decisão de domingo. Em nada alterou o panorama do jogo, cada vez mais propício à La U. A expulsão de Fagner, por pura descontrole emocional, somente piorou as coisas. Bem como o gol do craque da Copa Sul-Americana, o também artilheiro Eduardo Vargas, após belo cruzamento de Castro.

O Vasco se enfraquece ainda mais para a decisão do Brasileiro, no domingo, contra o Flamengo. Era o risco que tinha de correr em jogar duas competições ao mesmo tempo. Ao menos, não perdeu nenhum jogador por lesão. Os grandes prejuízos são físicos e psicológicos. Mas fáceis de serem vencidos. Basta força de vontade. E isso, o time de Cristóvão Borges tem de sobra.

domingo, 27 de novembro de 2011

O título estará em boas mãos

O Vasco foi heróico aos 45 minutos do segundo tempo de um clássico decisivo e muito bem jogado, assim como em toda a turbulenta temporada de 2011. Vaiado em diversos momentos, Alecsandro deixou o banco de reservas para decidir o jogo. Com um gol e uma assistência, pôde, enfim, voltar a receber aplausos. Acima de tudo, provou a força do elenco vascaíno e da visão de jogo de Cristóvão Borges, que, com duas mexidas, colocou os dois homens que virariam o jogo posteriormente.

O Corinthians foi cruel como nos últimos jogos. Venceu como fez em quase todo o campeonato. E manteve a liderança hegemônica do ano. Ainda sem jogar bem, mas mostrando muita força. Assim como o Vasco, tem elenco e um baita técnico. Assim como o time carioca, tem time e torcida para ser campeão na última rodada, contra o arquirival.

O título, sem dúvidas, ficará em boas mãos. Merecimento é a palavra de ordem para Tite mas caberá bem na conquista de qualquer um dos dois. O Corinthians, sobretudo, pela constância. O Vasco, principalmente, pela superação. Ambos pelo futebol que bem jogaram na maior parte do ano, com o desfile de craques do naipe de Felipe, Juninho, Dedé, Diego Souza, Liédson, Alex, Emerson, Willian, dentre outros.

Sem papos de teorias de conspiração, jogos arranjados, campeonato encomendado. O torcedor que reclama da arbitragem esquece de olhar para o próprio umbigo. O vascaíno que ficou indignado com o gol mal anulado de Diego Souza esqueceu que Juninho merecia ser expulso pelas quatro faltas para cartão que fez. O corintiano que tanto reclama dos juízes brasileiros, esquece dos benefícios que recebeu ao longo do campeonato. Mas não há favorecimento. Não neste ano.

Há, sim, favoritismo. E é corintiano. Mesmo jogando contra um Palmeiras motivado pela rivalidade histórica, precisar apenas de um empate é muito mais fácil do que ter que vencer o Flamengo no Engenhão sem Juninho, Diego Souza e Allan.

domingo, 20 de novembro de 2011

O peso do Imperador

Foto de Fábio Braga/Folhspress

Virou praxe nos últimos anos para a imprensa se preocupar com o peso de Adriano. Entre declarações de médicos e entrevistas de Tite, a certeza era de que Adriano não estava pronto, fisicamente, para estrear. Os minutos nos quais esteve em campo deixaram outra certeza: o Imperador também estava fora de forma técnica. Mesmo assim, Tite seguiu o relacionando para os jogos. Hoje, a duas rodadas do fim, ele provou ter acertado. E como pesa Adriano!

Aos 42 minutos da segunda etapa de um jogo dificílimo contra o Atlético Mineiro mais uma vez muito bem montado por Cuca, foi dele o gol da salvação. Não o da afirmação. Nem o da consagração. Ele não precisa disso agora. Adriano só precisava de um gol importante para ganhar o apoio da Fiel. Ele sabe que ainda tem muito a aprimorar física e tecnicamente para 2012, mas queria ser importante já em 2011. E foi. Com um golaço que tem tudo para ser decisivo no fim das contas.

O peso de Adriano extrapola os números marcados pela balança. A corrida com a bola nos pés, dentro da área e o chute, da sua potente perna esquerda, sem chances para o ótimo Renan Ribeiro, não são comuns a qualquer atacante. Nem Liédson, que fez boa partida e marcou o gol de empate, nem Emerson, autor da jogada do gol imperial, são capazes disso. Mas Adriano tem estrela, talento e força suficientes para marcar um gol, a dois jogos do fim do campeonato, mesmo muito acima do peso e fora das condições ideais para um jogador de futebol.

Adriano pesa tanto dentro e fora de campo, que provavelmente fará os corintianos esquecer as dificuldades da partida. Contra um Galo fechado num inteligente 4-1-4-1 montado por Cuca, no qual até André, o centroavante isolado, voltava para marcar, o time de Tite teve de buscar soluções diferentes para vencer o jogo. Soluções que saíram em boa parte das vezes de Alessandro, um dos melhores em campo. Resumindo: bolas aéreas.

Nunca o torcedor corintiano viu o time jogando tanta bola na área como hoje. Isso porque Pierre e Felippe Souto congestionaram o meio de campo, dificultando as enfiadas de bola de Alex, as tabelinhas de Paulinho com os meias e atacantes, entre outras tramas comuns ao time coritiano. Foi preciso apelar ao jogo típico inglês. Então surgiu outro problema: era preciso uma referência de área, já que Liédson e Emerson não são centroavantes típicos, cabeceadores natos...

Logo, Tite chamou Adriano. Mesmo com todos os poréns. No primeiro toque na bola, um domínio pífio. Adriano com certeza não está pronto. Passam-se alguns minutos e a sensação é outra. Adriano está com vontade de estar pronto. E se tratando de um atacante do porte do Imperador, isso basta para decidir um jogo. E não precisa ser pelo alto. Pode ser numa arrancada, em velocidade e num chute técnico cruzado. Jogada digna de quem está bem física e tecnicamente. Mas que Adriano consegue executar nas atuais condições em que se encontra. Craque é craque.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A importância de Fred nas retas finais




Rafael Moura costuma ser decisivo em jogos importantes. Foi assim com o Goiás na Sul-Americana, no ano passado, quando, inclusive, foi o artilheiro do torneio, e com o Fluminense na Libertadores deste ano. Rafael Sóbis também tem seu faro aprimorado em decisões. Que o diga Rogério Ceni. Foi dele o gol que consagrou o Internacional como campeão da América, em 2006. Mas nenhum dos três se compara a Fred.

O camisa 9 tricolor tem um poder de decisão impressionante. Pode passar o ano todo convivendo com lesões, noitadas, polêmicas, mas na reta final...ele resolve. Foi assim em 2009, na incrível campanha de fuga do rebaixamento do Fluminense de Cuca. Quando mais se precisou de Fred, ele apareceu com gols importantíssimos. Em 2010, no título brasileiro, Fred foi tão importante quanto Emerson Sheik, autor do gol derradeiro, na "final" contra o Guarani. Neste ano, o roteiro se repetiu. E lá foi Fred decidir.

A diferença é que, ao contrário dos anos anteriores, Fred não fez um ou dois gols diferenciais para o Fluminense. Fez quatro. Quatro gols fundamentais para a vitória por 5 a 4, de virada, sobre o Grêmio, no Engenhão, acontecer. Mais do que a disposição de Rafael Sóbis e os passes precisos de Deco, os gols de Fred fazem muita diferença. Como ontem. Com quatro tentos, o artilheiro tricolor recolocou o time na briga pelo título nacional.

Ainda assim, a dura missão de Fred ainda não acabou. Pela frente, mais três decisões. Dois clássicos. Duas oportunidades perfeitas para um atacante decisivo, um autêntico craque, aparecer e decidir. Sorte da torcida tricolor. Ele estará lá, aumentando, muito provavelmente, sua lista de 17 gols.

domingo, 13 de novembro de 2011

Os motivos que não permitem ao Flamengo brigar pelo título

Em um campeonato tão tresloucado como o Brasileiro, soa como incoerente afirmar, a cinco rodadas do final da competição que um time que está em sexto lugar, a seis pontos do líder, não brigará mais pelo título. Mas pela partida que fez hoje, em Curitiba, contra o Coritiba, tira todo o ânimo do Flamengo. Não somente pelo péssimo resultado em uma partida que poderia o colocar como terceiro colocado - o 2 a 0 afasta ainda mais o time das primeiras colocações -, mas pela forma como a derrota se desenrolou: em 90 minutos, o time de Luxemburgo provou como não fazer para vencer jogos e brigar por títulos.

As falhas individuais na defesa voltaram a aparecer. E o pesadelo da bola parada continua vivo na mente dos torcedores rubro-negros. Assim como fez o Cruzeiro, há exata uma semana, no Engenhão, o Coritiba abriu o placar em um escanteio. A jogada foi totalmente idêntica à que terminou em gol de Anselmo Ramón, no fim de semana anterior. Desta vez, coube a Leonardo empurrar para as redes, dentro da área, sem chances para Felipe, que não teve culpa nos dois gols.

O segundo gol teve um nível de facilidade ainda maior para os donos da casa. Maranhão aproveitou o erro de Ronaldinho no domínio de um lançamento de Felipe, roubou a bola no meio de campo, e, sem ser incomodado por nenhum marcador, invadiu o campo de defesa rubro-negra e, da entrada da área, chutou. A bola ainda desviou antes de encobrir o camisa 1 rubro-negro.

Como vem sendo desde o início do campeonato, uma eventual desvantagem no placar desanima extremamente o time rubro-negro, que parece não ter f0rças para reagir. Toque de bola pra cá, toque pra lá, e nada. A burocracia do meio de campo parece inexpurgável. Thiago Neves é um dos poucos que merece ressalvas. Em meio ao marasmo de jogadores do nível de Ronaldinho, Renato Abreu, dentre outros, destaca-se a entrega de um meia habilidoso e disposto a transformar suór em sangue.

Mas um só Thiago Neves não basta para o Flamengo. Bastaria, sim, se o time tivesse um atacante capaz de prender a bola na frente, fazer o pivô, abrir espaços e finalizar com precisão. Não são os casos de Deivid e, sobretudo, o atrapalhado e inexplicável Jael. É o castigo para quem preferiu não apostar em Adriano, Vágner Love e abrir os cofres por Kléber.

Os problemas rubro-negros são tantos que ultrapassam as quatro linhas e chegam à área técnica. Como pode um técnico, antes do final da primeira etapa, perdendo por 2 a 0, tirar um meia-atacante e colocar um volante? Luxemburgo tenta, mas não pode justificar. Errou na substituição. Mexeu mal e recuou o time num momento inoportuno. Verdade é que as opções que lhe são dadas não ajudam. Mas é preciso tirar leite de pedra num momento decisivo como o atual para ser campeão brasileiro.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Entre o risco e a consagração: Vasco nas semis da Sul-Americana

Foto: Ag.Estado


Desde a metade do ano, o Vasco já tem participação garantida na Libertadores 2012, principal prêmio oferecido pela Copa Sul-Americana. No Brasileirão, torneio mais importante do país, última vez conquistado pelo clube em 2000, é segundo lugar. Mesmo assim, o Vasco quer ganhar tudo que pode. Até o final da temporada, terá, em menos de um mês, no mínimo, 7 jogos para disputar entre o torneio nacional e o continental. Riscos a serem corridos em busca da consagração em âmbito continental.

Em noite mítica de Dedé, a virada sobre o Universitario, do Peru, por 5 a 2, prova a importância em se escalar time titular nas duas competições. E, obviamente, os riscos possíveis. A bela partida que Juninho fez poderia ter acabado ainda no primeiro tempo, quando recebeu forte pancada na panturrilha esquerda, a mesma que lhe tirou de alguns jogos do time neste ano. Mas a sorte estava ao lado do time da casa, na noite desta quarta-feira. A cada lance, a cada cruzamento errado transformado em gol, a cada frango inexplicável do experiente goleiro Johnny Top.

Em uma eventual eliminação, com um hipotético vexame em casa, como fez o Flamengo, há quase um mês, poderia, inclusive, mexer com o brio e o psicológico dos jogadores, prejudicando o ambiente do time no Brasileiro. Era um risco que Cristóvão Borges resolveu correr hoje. Com a goleada e a classificação inédita para o clube às semifinais, obteve a glória. Amanhã, os jornais estamparão elogios efusivos à escola do treinador em querer ganhar tudo. Foi preciso apostar alto para gozar de um prêmio como esse.

O próximo adversário vascaíno é quem joga, hoje, o melhor futebol da competição: o Universidad do Chile, que eliminou o Flamengo, com direito a baile no Engenhão e olé em Santiago. Time organizado, rápido e que joga bem tanto dentro como fora de casa. Infinitamente superior ao Aurora e muito acima, também, do Universitario do Peru, os últimos adversários cruz-maltinos.

Para não correr riscos de se ver em desvantagem logo no primeiro confronto, visando a força da “La U”, o mais coerente seria Cristóvão Borges escalar o time titular novamente. Até porque não haveria justificativas para retornar à opção pelos reservas. Ele escolheu, hoje, correr os riscos prévios impostos pela escalação dos titulares nas duas competições. E é provável que acerte no final das contas.

O exemplo mais recente que pode ilustrar a situação é o Fluminense de Cuca, em 2009. Brigando para não cair, o técnico tricolor não se intimidou com a pressão de dirigentes e dos críticos, e escalou o time titular tanto na Sul-Americana daquele ano como no Brasileiro. O final foi quase perfeito. O Fluminense foi derrotado somente na final da competição continental e escapou do rebaixamento na nacional. Cuca correu riscos, mas, ao mesmo tempo, uniu o time, motivou os jogadores e deu ritmo a todo o elenco. Uma vitória motivava a outra, independente da competição.

No contexto incerto do futebol, é difícil prever o certo e o errado. Mas o que a história do esporte prova é que apostar e correr riscos é sempre um passo importante para fazer história. Na melhor das hipóteses, Cristóvão Borges poria para sempre o seu nome na história. Na pior delas, cairia no esquecimento da torcida, que voltará a ter Ricardo Gomes na Libertadores 2012. A coragem, nesse caso, é arriscada. E pode ser brilhante no final. O tempo dirá.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O título que renova a Portuguesa

Foto: Eduardo Viana


“Eu nunca tinha visto o Canindé desse jeito”. A frase é forte e de quem vive Portuguesa há quase 3 anos. Marco Antônio, de fato, nunca tinha sido campeão com a camisa do clube que melhor defendeu. Teve que esperar bastante para levantar o primeiro troféu pela Lusa. Justamente o da Série B, com direito a golaço decisivo na partida derradeira, contra o Sport, num Canindé abarrotado de torcedores, nesta terça-feira. Um título que, além de garantir um lugar na elite, renova o ambiente da Portuguesa.

Marco Antônio tem razão em dizer que nunca tinha visto o Canindé cheio do jeito que estava e com as faixas reviradas e imponentes. Ele e todo mundo. Para uma torcida desacreditada por sofrimentos recentes, como quedas regionais e nacionais, era difícil crer em dias melhores e diferentes. Jorginho sabia que, somente com o tempo, conseguiria o apoio dos torcedores. E, aos poucos, foi conseguindo, da maneira mais fácil: provando que se tratava de um projeto sério, planejado e a longo prazo. Mais do que incentivos, conquistou a admiração e o respeito da maioria, montando um time não só competitivo, mas também encantador, carinhosamente apelidado pela imprensa de “Barcelusa”.

Para a Série B, Jorginho não precisava de um goleiro como Valdés. Mas achou um talento escondido no Acre, valente como Valdés, técnico como poucos na história do clube. Weverton é um dos grandes nomes desse título. Assim como a revelação do campeonato, Henrique, uma espécie de Iniesta paulista: 19 anos, ótimo passe, marcação eficiente, visão de jogo excepcional. Atributos que fizeram Jorginho dar a seguinte declaração a um programa de grande audiência na TV fechada, em rede nacional: "Não me surpreenderei se Henrique estiver entre os 11 da Seleção na Copa do Mundo de 2014". Prognósticos à parte, Henrique é um baita volante. Assim como Marco Antônio, o Xavi da torcida.

O bom-humor do povo permitiu comparações mais profundas. O estilo de jogo agressivo, as variações táticas, como o recuo do centroavante como um falso-nove, função que Messi desem-penha com uma eficácia impressionante, imitada pelo excelente Edno, ídolo no Canindé, e o futebol envolvente são dignos de um Barcelona brasileiro.

O que mais impressiona nesse time é a vontade de vencer jogando bem. O que leva a crer, por vezes, que é melhor perder jogando bem do que vencer jogando mal. Filosofia essa que o técnico Jorginho já se disse adepto. Ele faz questão de fazer o time jogar bem sempre, para não correr o risco de ser preferível perder. Por isso, quis ser campeão já com três rodadas de antecedência, com 12 pontos de vantagem para o vice-líder. Para ele , seus jogadores e a Portuguesa, vencer jogando bem é uma prioridade única. Num dia em que o time se deixou levar pelo oba-oba por 45 minutos e dominar pelo Sport, sem jogar bem, o empate foi mais coerente que uma eventual vitória. E suficiente para garantir o caneco.

domingo, 6 de novembro de 2011

O Flamengo do segundo tempo deste domingo briga pelo título

Foto: Thiago Neves comemora um de seus três gols. O meia foi muito bem na goleada deste dom ingo, sobre o Cruzeiro( André Portugal/ VIPCOMM)


O "se" não ganha e nem perde campeonatos. Mas se Flamengo e Cruzeiro jogassem os cinco jogos que lhes restam no Campeonato Brasileiro dificilmente não se dividiriam entre o título e o rebaixamento. Rápido, envolvente e disposto a vencer, o Flamengo foi nos quarenta e cinco minutos finais da goleada por 5 a 1 sobre o time mineiro neste domingo, num Engenhão repleto de rubro-negros, exatamente o contrário do que havia sido na primeira etapa. No primeiro tempo, foi o time de Vagner Mancini quem dominou as ações da partida. E sem força. Depois de marcar com Ernesto Farías e ter um pênalti desperdiçado por Victorino, o Cruzeiro viu a sorte e a competência mudando de lado já no fim da primeira etapa, quando Deivid empatou em lindo chute de fora da área.

O que estava por vir era, ainda, muito pior. Nem é tão difícil explicar a sonolência e a apatia do time mineiro na segunda metade do jogo. Nas últimas partidas, quase sempre o time se comporta dessa forma. Montillo é um dos poucos que se salvam das vaias. Em todo o segundo turno, apenas uma vitória. A cada rodada, é muito candidato ao rebaixamento. Difícil, mesmo, é explicar a injeção de ânimos dada por Vanderlei Luxemburgo no intervalo. A intensidade dos donos da casa no segundo tempo foi algo extremamente surpreendente para os mais de 39 mil presentes.

A lentidão na saída pro jogo e a falta de segurança na zaga nem de longe puderam ser vistas do intervalo até o apito final de Leandro Vuaden. Airton trocou os passes errados por botes certeiros e toques de primeira na transição defesa-ataque. Alex Silva, por sua vez, passou a acertar os desarmes e, principalmente, as antecipações. E Welinton, com a seriedade de sempre, pôde usufruir de mais tranquilidade para acertar, uma raridade em meio a seu repertório de erros e azar. Após péssimos 45 minutos, o sistema defensivo rubro-negro voltou com outro espírito do vestiário.

Assim como o ataque. Thomás, Ronaldinho, Thiago Neves e Deivid mostraram uma sede absurda pela virada. Os quatro homens de frente de Luxa foram importantíssimos na construção da goleada. Sobretudo Thiago e Deivid. Bem posicionados, tiveram frieza e precisão absurdas nos 5 gols rubro-negros. Os dois últimos abrilhantados por passes sensacionais do jovem Muralha, outra revelação rubro-negra, que, ao contrário do domingo passado, quando entrou desligado e viu seu time tomar a virada do Grêmio, em Porto Alegre, entrou muito bem no Engenhão, sendo aplaudido de pé pela massa. Em todos os gols, procurou seu amigo Thomás para abraçar. A simbologia da renovação de talento. Como um aviso prévio da geração que está por vir, muito promissora por sinal. Dos onze em campo, os dois são um dos poucos que mereceram nota alta pelas atuações.

Sem inventar, Luxemburgo consertou com a entrada de Muralha a falta de velocidade entre a defesa e o ataque, o grande defeito da equipe na primeira etapa. E, mesmo sem Ronaldinho inspirado - o Gaúcho não foi bem durante todos os 90 minutos, demonstrando pouca mobilização e muitos erros de passes e dribles -, viu seu time deslanchar nos 45 minutos finais. Com Renato Abreu de volta ao time no próximo domingo, vai jogar outra decisão rumo ao inesperado heptacampeonato: Coritiba, no caldeirão do Couto Pereira.

Se for ousado, intenso e preciso como foi no segundo tempo deste domingo, o Flamengo tem grandes chances de sair da capital paranaense vencedor. E ainda mais vivo na briga pelo título. A contar com tropeços rivais, se deixar chegar... A máxima rubro-negra costuma prever os finais de campeonato mais eletrizantes. O time de um tempo só pode ser mais competitivo e ter a cara de campeão que ainda não teve. Ainda há cinco rodadas para Luxemburgo trabalhar. A inspiração, certamente, vem deste domingo. E dura 45 minutos.

Cristiano Ronaldo: um ídolo polêmico, um craque pouco reconhecido


Os números e as atuações falam por si só. Mas a marra e o orgulho embarreiram o caminho rumo à unanimidade. Com fama negativa fora dos campos, não é considerado bom moço nem mesmo dentro deles. Na disputa pelo prêmio de melhor jogador do mundo, carrega nas costas o ônus de quem nunca teve na modéstia o seu forte. Mas ao mesmo tempo, mostra que, com a bola nos pés, continua o craque que sempre foi. Hoje, na hora do almoço, fez mais três gols pelo Real Madrid na goleada de 7 a 1 sobre o Osasuna. Com 102 gols, ultrapassou Ronaldo Fênomeno na história do clube merengue. De recorde em recorde, vai provando ser muito maior do que todos o consideram ser.

Cristiano Ronaldo é um ídolo difícil de ser idolatrado por adversários. Faz parte de um rol de jogadores históricos, míticos, mas pouco respeitados por adversários. Abusado, marrento e, por vezes, desrespeitoso, não consegue muitas vezes, por causa dessa fama, receber o reconhecimento necessário por sua carreira como jogador – brilhante, por sinal. Falando menos, polemizando menos e marcando mais gols do que nunca, parece estar no caminho certo. Ainda sem a modéstia e a tranquilidade de jogadores mais tímidos. Como Messi. Mas com muitos gols.

Errado, de fato, é quem não considera, hoje, Cristiano Ronaldo, pelo menos, entre os três jogadores do mundo. Incoerência total para quem marcou 53 gols na temporada passada e já chegou ao de número 13 na atual época. Se não bastasse, o português também é notório nas assistências. A cada jogo, uma nova magia. E mais gols. Hoje foram três. Com direito a entrega do prêmio Bota de Ouro, mais um para sua inesgotável coleção.

Pelo futebol que jogam, no momento, seus concorrentes, sobretudo Messi e Xavi, Cristiano não é favorito ao prêmio Bola de Ouro, concedido em conjunto pela revista francesa France Football e a Fifa, numa tentativa de eleger justamente o melhor jogador do planeta a cada ano. Por outro lado, de forma algum o gajo pode ser considerado azarão. Numa breve comparação com Messi, tem rendimento parecidíssimo. E, como o argentino para o Barcelona, é o jogador mais importante para o time de José Mourinho atualmente. E um dos mais decisivos da Europa.

Em números mais abrangentes, leva inclusive a melhor sobre o atual melhor jogador do mundo: desde 2003 com a camisa do Barcelona pelos profissionais, Lionel Messi marcou 200 gols; em menos de três temporadas, Cristiano Ronaldo chegou a 100. Se a corrente se manter, o português ultrapassará o argentino nos próximos anos.

A discussão merece ser levada aos aspectos técnicos e táticos. Numa visão geral, é possível afirmar que Messi é mais completo, mas isso não significa dizer que o argentino é melhor. Nem mais jogador. Com estilos e posições diferentes, ambos receberiam de forma justa o prêmio de melhor do mundo. Teoricamente. Na prática, Messi é o brilhante, o herói da história e Cristiano, o vilão. Graças a seus comportamentos dentro e fora de campo. Mas é preciso haver imparcialidade, sobretudo dos críticos. No quesito mais importante, que é o futebol, Messi está no mesmo patamar que Cristiano, com pequenas diferenças.

Historicamente, inclusive, ambos se colocam no mesmo patamar, pois falta aos dois um título de expressão – leia-se Copa do Mundo. Falta essa consagração. Ídolos incondicionais de suas torcidas e de seus países, já ganharam quase tudo na carreira. Com exceção do título mundial. Na Espanha, onde jogam atualmente, são estrelas em meio ao país que abriga os atuais campeões do mundo. E, de um modo geral, donos de um campeonato. Afinal, a cada rodada, a cada jogo, só se fala nos gols, nas assistências, nos números que os separam. O futebol de um, porém, está sempre colado no de outro.

Ultrapassar Messi na matemática das estatísticas significaria muito para Cristiano Ronaldo. Ainda assim, para enfim ser unanimidade, o melhor do mundo, sem preconceitos e com total reconhecimento, faltam conquistas. Conquistas na maioria coletivas. Principalmente uma Copa do Mundo por Portugal. Aí, sim, mesmo sendo marrento, ousado, marqueteiro, metido e polêmico, Cristiano Ronaldo será, de fato, o melhor do mundo. Sem barreiras e fronteiras. Por enquanto, é só um dos melhores. E ainda sofre muito por ser como é.

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