Era difícil imaginar que algum treinador conseguisse, àquela altura, recuperar a auto-estima dos jogadores, o plano de jogo e a gana de um grupo que se via, ainda que no início de temporada, já sem pretensões. Era essa a situação do Botafogo no fim de janeiro, após perder de forma humilhante para o Vasco, no Engenhão, por 6 a 0. Acima de tudo, para todos os dirigentes parecia impossível pensar numa solução eficaz.
De imediato, a primeira e mais esperada medida foi tomada: o técnico Estevam Soares acabou demitido. E depois? Seria necessário fazer uma reformulação de um grupo que acabara de ser montado? O que era melhor naquele momento para o clube? As respostas sumiam. E a cabeça de André Silva, vice de futebol do Alvinegro, quebrava-se em meio a idéias distantes da realidade da equipe.
A crise chegava às mãos de Maurício Assumpção pela primeira vez. A torcida protestava, pedia a saída de jogadores, criticava outros. General Severiano estava em chamas como a camisa queimada pelo torcedor no Engenhão, em imagem chocante mostrada a todo o Brasil.
Em casos extremos como esse, o bombeiro tem de reunir características extraordinárias. Incomuns. E, normalmente no Rio de Janeiro, ele é sempre o mesmo, tem dois nomes, e atende pelo apelido de “papai”. Joel Santana bem que pode ser considerado um “papai Noel”. Além de ter nascido no dia 25 de dezembro, não cansa de ser o salvador de Flamengo, Fluminense, Vasco... E Botafogo. Afinal, demoraram pouco mais de 3 meses para ele apagar as chamas. E instaurar a paz. Em maio, o mesmo Botafogo, com os mesmos jogadores, e com uma motivação além da conta, sagrava-se campeão carioca.
E por antecipação. Sim, o mesmo Botafogo que perdeu de 6, ganhou do Vasco na final da Taça Guanabara, e do Flamengo na final da Taça Rio. Foi campeão carioca de forma absoluta. E justa. Ainda que sem jogar um futebol esplendoroso, envolvente. Ainda que dependendo dos contra-ataques e das bolas alçadas à área. Mas sempre com superstição. Sempre com personalidade. E até com ‘cavadinha’ na decisão do segundo turno. Ao melhor estilo sofrimento. Ao melhor estilo loucura. Ao melhor estilo Botafogo.
Com a humildade de sempre, e o bom-humor vital de todos os dias, a coletiva da segunda-feira foi cheia de risos e brincadeiras. Ele estava de volta. Com a taça na mão, e o sucesso de sempre. Joel Santana provara, mais uma vez, que com destino e competência não se brinca. Ele realmente é um salvador.
Quantos outros treinadores no Brasil agiriam de forma diferente? Quantos outros treinadores no Brasil dispensariam boa parte do elenco, trariam novos reforços e remodelariam o grupo? Em ambas as perguntas, a reposta é a mesma, unanimidade: muitos. E quantos outros treinadores no Brasil fariam o mesmo que Joel? Alguns. Fato é que raríssimos venceriam como o Natalino venceu. E nenhum da forma como ele venceu. Por isso Joel Santana é único, inigualável e incomparável.
Antes em baixa, sem ter o nome muito “falado” pela imprensa, Joel curtia as férias. Após passagem pela seleção sul-africana, voltou ao Brasil, desempregado. No Botafogo, encontrou sua retomada. Voltou a ser capa dos jornais. E não demorou para despertar interesses alheios. Em maio, o Flamengo já tinha uma proposta pronta. O coração bateu mais forte. Joel se identifica muito com a torcida rubro-negra. E vice-versa. Mas com a tricolor também. E com a vascaína. E, então, com a botafoguense. Não é à toa que é chamado de “Rei do Rio”. Com razão.
A permanência de Joel Santana foi só mais um dos fatores que impuseram ao Botafogo a grandeza que o merece para brigar por um título que não vem desde 1995. Depois de uma virada heróica no Estadual, Joel não conseguiu o título brasileiro. Mas pode dar ao Alvinegro a Libertadores do ano que vem. Um presente imenso a todos os torcedores.
Porém não o presente mais esperado, aguardo e querido. Não o verdadeiro presente de Natal. Este, ainda encontra percalços, barreiras. E interesses alheios. Se tiverem que fazer de tudo para consegui-lo, os botafoguenses irão lançar mão de suas forças. Pois se trata de um presente inigualável. Desejado por muitos. Ele pode vir na quinta-feira, conforme anunciado pelo próprio ‘Papai Noel’. Ou não. Supersticiosos como sempre, os alvinegros rezam pelo melhor. Rezam por Joel. Não haverá mais Natal no dia em que um clube carioca não quiser Joel Santana como técnico.
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