" O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso...", Bill Shankly




sexta-feira, 8 de outubro de 2010

300 vezes Leonardo Moura


Leandro foi o maior lateral-direito da história grandiosa e vencedora do Flamengo. Leonardo Moura, sem a menor sombra de dúvidas, é o segundo dessa lista que para por aí. Por motivo de critério. Nessa eleição, só devem entrar jogadores brilhantes tecnicamente, amadurecidos taticamente, vencedores e, acima de tudo, flamenguistas. Atletas que deram seu sangue por cada bola que parecia perdida. Por cada final. Por cada pressão. Por cada situação contrária. Eles são muito Flamengo. Assim como Zico, Andrade, Adílio, Júlio César, Júnior.


Neste domingo, o Rubro-negro encara o Avaí tentando se afastar ainda mais da zona de rebaixamento que tanto pertuba sua imensa torcida. Mais do que os três pontos e uma boa atuação, a Nação Rubro-negra anseia para ver Léo Moura em campo. Com sua mítica e inseparável camisa 2. Pela trecentésima vez. Assim como em 2005, o time briga contra o rebaixamento. E só um jogador no atual grupo do clube tem motivos para querer sair, novamente, dessa situação ruim a ponto de dar a vida dentro de campo.


Pois nenhum outro ama tanto as cores que defende quanto Leonardo Moura dentro da Gávea. Talvez só Juan e Angelim tenham vencido tanto pelo clube nesses últimos anos. Só Willians deva receber tanto carinho das arquibancadas mesmo numa fase ruim. E nenhum dos mais de trinta jogadores inclusos no plantel rubro-negro merece tanto ter o nome vinculado com o Flamengo e suas glórias como o camisa 2, que venceu como o lateral-esquerdo e o zagueiro, é elogiado como Willians pela torcida, tem a raça de Renato, a técnica de Kleberson e o amor de trinta e quatro milhões de pessoas.


Independente do resultado, da decisão, do final, ele vai lutar até o fim. Até quando puder. E, quando não conseguir reunir forças para tentar, sua vida não terá mais sentido profissionalmente. Ele vai honrar a camisa que veste até o último segundo em campo. Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. Como ouviu isso na sua vida. E respeitou. E entendeu. E amou. Apaixonou-se perdidamente por uma grandeza inigualável. Paixão que o transforma em outro ser, capaz, inclusive, de ofender seu próprio e gigantesco amor, como em 2009, no empate diante do Náutico no Maracanã. Difícil de se entender. Fácil de deixar pra lá, e fingir que se arrependeu. Essas não são atitudes dignas de Léo Moura. Ele fez questão de reatar o que nunca terminou. Foi tudo por amor. Não há ódio na sua relação com o clube. Não há nada. É só amor.


E muito amor. Evidenciado no bicampeonato carioca de 2008, quando, só, ajoelhado no gramado, de frente para sua nação, chorou de emoção copiosamente após o gol que daria mais um título ao Flamengo. A ele mesmo. Traduzido nas comemorações e nos piques que dá até sentir cãimbras. No esforço que faz para compensar um erro. Na vontade que tem em vencer. Na lateral, na ala, no meio, ele joga até no gol. Não importa. É Flamengo e só. O resto é o resto. Propostas da Europa seduzem seu empresário e o seu lado profissional. É quando o pessoal fala mais alto. E, mesmo tendo treinado naquele dia, só de pensar em deixar o Flamengo, bate uma saudade da Gávea, da torcida...


No futebol globalizado e modificado, criticado por todos os ortodoxos moderados, que sentem saudade da época em que jogador bom é aquele que ficava anos e mais anos num só clube, Léo Moura tem no coração sua caneta para assinar contratos. Isso, ele aprendeu com a experiência que ganhou na Europa, para onde foi no início de carreira. No Palmeiras, tentou se identificar com a torcida na marra, à base da forçação de barra. Perda de tempo. O sangue que corre em seu corpo não tem somente uma cor. É rubro-negro.


Achar o caminho de casa pode ter sido complicado. Os obstáculos tentaram impedí-lo de bater à porta que o leva para seu quintal. A persistência e o desejo de reencontrar seu grande amor ofuscaram qualquer tentativa frustrada de barrá-lo nessa trajetória. Foram precisos alguns anos de namoro para passar por problemas quase insuperáveis, como o rebaixamento de 2005, evitado de forma milagrosa. A confiança que cerca um casamento era fundamental. E ela veio com o tempo. Hoje, a separação é praticamente impossível, os laços parecem, cada vez, inabaláveis. É amor de verdade.


A sintonia com que Leonardo Moura pisa qualquer gramado do Brasil ostentando o 'Manto Sagrado' arrepia até os rivais. É muita identidade. Lealdade. Impressionante, mesmo, é como um lateral consegue ficar cinco anos no clube de forma quase perfeita. Raras foram as vaias, mínimas as confusões. Máximos e incontáveis os momentos de euforia. Idem a Palmeiras de Marcos, São Paulo de Rogério Ceni, o Flamengo pode se gabar de possuir, no seu time titular, um ídolo eterno. Um camisa 2 inesquecível, que completa 300 jogos pelo seu clube de coração da maneira mais verdadeira possível.

Um comentário:

  1. Cada vez mais vemos atletas, tecnicos e até jornalistas esportivos declararem nome e sobrenome do CLUBE DO CORAÇÃO. Não deixa de ser curioso que, a medida em que, teoricamente, se profissionaliza e globaliza, o futebol brasileiro revela casos como o do Leo, o do Kleber, Renato Gaucho e Felipão (dizendo que jamais usariam uniforme vermelho), etc. Ao mesmo tempo que meu orgulho rubro negro se envaidece com tal demonstração de fidelidade e amor ( 300 jogos, pouquíssimas contusões, muita vontade não são mesmo pra qq um) penso se não seria melhor ter como capitão um europeu frio, calculista, profissional ao extremo, que se dedica ao maximo pelas conquistas que possa vir a ter porque no fim, o clube é só o meio de conseguir as vitoria e os titulos. É uma questão interessante, não? Eto'o ama mais o Inter do que o Barcelona? Messi ama mais o Barcelona que a Seleção Argentina? Será que o Leo pensa nisso quando, ao errar o enésimo cruzamento num dia ruim, a torcida não o perdoa e esquece todo o sangue rubro negro que ele tem? Eu não esqueço. Parabéns ao Leo, que graças a Deus foi uma vez Flamengo, Sempre Flamengo.

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