Há um mito de que a Itália só sabe se defender. Corrigindo. Havia um mito de que a Itália só sabia se defender. A alcunha de time retranqueiro certamente não cabe mais à Azzurra. Não depois de hoje. Não depois de Pirlo, como primeiro-volante, ter sido o melhor em campo, de longe o jogador mais criativo e perigoso do jogo, como nos seus melhores anos de Milan. Não depois da equipe de César Prandelli ter tido posse de bola superior durante todos os 90 minutos, sobre outra potência mundial, a Inglaterra.
Essa crença mística e preconceituosa já devia ter acabado em relação ao futebol italiano. Quem assiste ao campeonato italiano, vê bons jogos, ótimos times e muitos gols. Claro que os italianos gozam de um maior prestígio quanto ao sistema defensivo. Algo mais do que cultural, histórico. É sabido que a Itália sempre montou seus times à base de uma boa defesa. Faccheti, Baresi, Maldini, Cannavaro, Nesta...A lista é extensa. E esclarecedora.
Mas o futebol mundial sempre pediu equilíbrio. Os grandes times sempre tiveram no equilíbrio a chave para o sucesso. São raros os casos de equipes marcantes, vencedoras só com uma grande defesa ou um grande ataque. Os grandes esquadrões tinham times equilibrados, com boas defesas, bons meios e bons ataques. A Itália sempre teve times com grandes defesas. E seus melhores times, tinham bons ataques, alguns ótimos ataques.
Hoje, a Itália provou ser mais criativa que a Inglaterra. E ser ofensiva. Provou ser bem-sucedido o processo de renovação da seleção nacional, encabeçado, agora, por Prandelli e seus interessantes ideais na montagem de um time.Não tão intensa e envolvente como a Alemanha. Nem tão estilosa como a Espanha. Mas atraente. Afinal, uma seleção que controla todo um jogo de quartas de final da Eurocopa, com posse de bola superior ao adversário, mais volume de jogo há de ser atraente aos olhos de quem gosta de futebol. E, de fato, a Itália é atraente. É muito mais do que uma forte defesa.
Atualmente, aliás, o setor ofensivo italiano chama até mais atenção do que o defensivo. Com Pirlo armando, Marchisio, De Rossi, Thiago Motta e Montolivo, não necessariamente nessa ordem, ajudando na criação das jogadas e se desdobrando para reforçar a marcação no meio-campo e um ataque formado por dois jogadores de movimentação, técnica e oportunismo, se tem um time ofensivo. Atacante.
Para muitos, sem a cara da Itália. E que cara é essa? O time que só sabe se defender? Que time é esse? A Itália de 70 chegou à final fazendo grandes jogos, passando de uma semifinal, com direito à prorrogação, com sete gols, dos quais quatro foram italianos. Em 82, tinha um time sólido, de muita marcação no meio, é verdade, mas bons jogadores do meio-pra frente. Em 94, tinha Baresi na zaga. E que zaga. Mas na frente, tinha Roberto Baggio, um dos grandes atacantes da época. Em 2006, talvez o time que mais contra-atacava. Mas que sabia atacar e contra-atacar. Time bastante equilibrado e decisivo. Não à toa acabou campeão.
O importante é que o mito acaba hoje. A Itália sabe muito mais do que só se defender. A Itália sabe jogar, criar, atacar, sufocar, ganhar. Contra a Alemanha, terá outra excelente chance de provar o seu verdadeiro valor. O deuses do futebol agradecem.
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