" O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso...", Bill Shankly




segunda-feira, 29 de março de 2010

Luto pelo mestre, pelo dono da bola

Não conheci Armando Nogueira, infelizente. Porém, não é difícil conhecê-lo através de seus textos e poemas. Ele morreu nesta segunda-feira, vítima de um câncer no cérebro, aos 83 anos. "Ainda bem "que não foi num domingo, dia nacionalmente conhecido como dia de partidas de futebol. Armando, um jênio do jornalismo esportivo, um dos maiores cronistas esportivos de todos os tempos, não merecia morrer num domingo. Muito menos numa segunda em que seu Botafogo joga. Armando merecia ser imortal. O velório do Mestre, do Dono, sim, da bola, do poeta, do homem que encantou milhares de leitores e que fez do jornalismo esportivo uma escola, será, por ironia do destino, em seu palco de tantos textos, o Maracanã.

Em homenagem a Armando Nogueira, o blog republica um texto produzido pelo próprio ex-escritor, sobre o próprio Maracanã. Saudade. E luto. Você é eterno nesse Maracanã, Armando.

MARACANÃ

Revejo, com saudade,as bandeiras das tuas batalhas repartidas sobre o campo.

Revejo, com saudade,a tua multidão que torce e distorce a verdade até morrer,doa a quem doer.

Revejo, com saudade, as esperanças que se perdiam pela linha de fundo no entardecer de cada jogo.

Quantas vezes foste a minha pátria amada, idolatrada,salve, salve a seleção!

Quantas vezes a minha alma escapava de mime, sem que o árbitro notasse, aparecia na pequena área,providencial, para fazer o gol da vitória.

Perdi a conta dos golsque fiz com pés que nunca foram meus.Saudade de certa lágrima de vitória que, um dia, vi brilhar no rosto quase meu de uma criança.Maracanã.

És a fantasia da paixãoque aproxima e divide:louvor e blasfemia,alegria e desdita.

És o gol de Gigghia,celebrado com um minuto de silêncio à soberba nacional.És o ignorado herói de uma tardecujo gol restou sem datacomo se nunca houvera sido feito.

És gol de placaque ninguém sabe ao certo como nasceumas que o tempovem tratando de fazé-lo cada dia mais bonito.Gol de fábula.

És o craque que passa, sem pressa,tecendo a promessa de gol com a bola nos pése os olhos na linha do horizonte.

És Gérson e Jair da Rosa Pintoque tinham no pé esquerdo o rigor da fita métrica.

És Nilton Santos, futebol de fino trato,na majestade e no saber.

És Zizinho, que conhecia, como ninguém,todos os atalhos da tua geometria.

És Zico que driblava triscando a grama,suave como uma pluma.És a "folha-seca" de Didi,fidalgo de rara nobrezaque tratava a bola como se trata uma flor.

És Ademir Menezes correndo, olímpico,pelos indizíveis caminhos do gol.

És Carlos Castilho, santo goleiroque fazia milagres pelos confins da pequena área.

És Pelé,cujos gols eram tramados na véspera (ele trazia de casa as traves e a bola do jogo).

És Garrincha que dobrava as esquinas da área driblando Deus-e-o-Mundocom a bola jovial da nossa infância.

Quanta saudadedaquele drible pela direitaque alegrava as minhas jovens tardes de domingo.

És, enfim, a vitória e a derrota,caprichosa imitação da minha vida.

E porque és uma parte da minha memória,seguirei cantando, comigo, a melodia de teu doce nome:Maracanã, Maracanã.

ARMANDO NOGUEIRA

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