O onze inicial do Levante: somente três jogadores com contrato para a próxima temporada(Foto de José Antonio Sanz/Marca.com)
A alegria inédita da modesta torcida do Levante, atual vice-líder do Campeonato Espanhol, com os mesmos 17 pontos do poderoso Barcelona, tem grandes chances de ser momentânea. Isso porque boa parte do atual elenco pode deixar o clube a partir de janeiro de 2012. Visando a solução de uma dívida milionária de gestões anteriores, o presidente Francisco Catalán desenvolveu uma nova política administrativa: passou a firmar contratos curtos e com jogadores livres no mercado para cada temporada, nos quais o desempenho do atleta é tido como critério para dispensa ou renovação.
Na segunda divisão, o metódo deu certo. De cara, veio a promoção para a Liga das Estrelas. No entanto, juntamente com o alívio de estar novamente na elite, veio a preocupação em montar um bom time. E aconteceu. Deu certo novamente. Em oito rodadas, 17 pontos e um segundo lugar surpreendente. A consequência disso tudo, todavia, é muito preocupante. Sem verbas para firmar contratos mais longos, quase todo o elenco tem vínculo com o clube somente até o fim da atual temporada. A partir de janeiro, já poderão negociar com outros clubes livremente. E o Levante pode ficar sem time em 2012.
Fato é que abordar projeções futuras tiram dos rostos dos torcedores e dirigentes do clube valenciano o sorriso do presente, pelo ótimo início de campeonato da equipe. A longo prazo, é cada vez mais provável que a situação financeira do clube comece a atrapalhar a fase dentro das quatro linhas. De todo o elenco inscrito na Liga BBVA 2011-12, somente 7 jogadores(Munúa, Pallardó, Héctor Rodas, Iborra, Pedro López, Barkero y Nabil El Zhar) têm contrato para a temporada seguinte. Deles, somente três são titulares.
O tempo passa e o desespero da diretoria só aumenta. Nem mesmo a boa fase vivida pelo time dentro de campo é capaz de ofuscar os problemas. Dois dias após derrotar um dos times mais promissores da temporada, o Málaga, dentro de casa, por 3 a 0, a preocupação em relação a questões financeiras enfim falou mais alto. Houve uma reunião entre a cúpula do clube, patrocinadores e investidores. No entanto, nenhum plano imediato foi decidido.
O diretor esportivo do clube, Manolo Salvador, já agiliza a tentativa de prorrogação do vínculo contratual com uma boa parcela de jogadores. Há também a preocupação em formar novos jogadores, capazes de integrar o plantel principal em 2012. “Nossa prioridade, atualmente, é a renovação dos que ficarão sem contrato a partir de 2012. A situação é alarmante, sim, mas ainda há salvação. E estamos trabalhando nisso”, declarou o dirigente, ao jornal Marca.
Na pior das hipóteses, o Levante pode ficar sem time suficiente para jogar a temporada seguinte. Isso porque, com exceção dos 7 jogadores que têm contrato por mais de uma temporada com o clube, todos os outros poderão assinar de graça com outros clubes da Europa a partir de janeiro, a seis meses de terem seus contratos expirados. Destaques do time comandado por Juan Ignacio Martínes como Felipe Caicedo, Farinós e Juanfran são alguns dos nomes que poderão deixar o clube.
Para evitar uma situação trágica como essa, a diretoria do clube já trabalha tentando atrair investidores e patrocínios. Sem um marketing muito efetivo, o pequeno clube da cidade de Valência vê no seu efêmero protagonismo deste início de temporada a sua grande chance de resolver distúrbios financeiros. Para piorar, a cota de TV não ajuda. Pelo contrário. Praticamente dividida entre os gigantes Real Madrid e Barcelona, sobra muito pouco para os times de menor porte. E as dívidas crescem.
O jeito é levar os problemas para dentro de campo e resolvê-los com a bola nos pés. Mas até quando? Apesar de salários em dia, nem todos os jogadores do Levante gozam de um montante mensal animador. Com maior visibilidade, a tendência é que propostas maiores apareçam. E é aí que mora o perigo, como o próprio presidente Catalán admite: “ Não podemos competir com times grandes. Eles pagam bem e oferecem contratos de 4, 5 anos. Nós, infelizmente, não.”, diz ele, novamente ao Marca.
Ainda assim, Francisco conseguiu montar um time minimamente competitivo, que, por enquanto, vai inclusive superando expectativas e prognósticos de especialistas. Ainda que com somente 8 rodadas disputadas, estar com o mesmo número de pontos do Barcelona e na frente do Real Madrid e do rival regional Valência é um feito e tanto.
Mas, para mantê-lo, será preciso uma união maior do que a que caracteriza o time até aqui. Maior, inclusive, que a interação arquibancada-vestiário. Afinal, muito mais do que os incentivos da torcida, patrocínios, investimentos e planejamento econômico serão fundamentais para evitar a debandada de alguns jogadores.
E para vencer a queda de braço entre amor à camisa e dinheiro, o presidente acredita numa maior identificação dos jogadores com as cores do clube e com a torcida, cada vez mais respeitada pelo elenco. “ O grupo é uma verdadeira família. Está muito unido, tanto nas vitórias como nas derrotas. Vamos vencer essa crise.”, diz animado, o treinador Juan Ignacio Martínez, que, nos últimos meses, teve que quebrar a cabeça para montar um time sem estrelas, mas com guerreiros.
O resultado, aos poucos, vai se tornando cada vez mais nítido aos olhos dos torcedores. A cada jogo, o público comparece mais. A cada renda, o lucro é maior. Sem dinheiro no caixa, mas com muita disposição, o Levante vai se mantendo no topo enquanto pode.
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